• FACA

    September 27, 2024 in São Tomé and Príncipe ⋅ ☁️ 26 °C

    Foi mais um dia cheio e muito rico a todos os níveis, sem expectativas, deixando as coisas fluírem e levarem-nos em vez de sermos nós ao comando.

    A roça Água Izé foi a primeira que nos aproximou mais da população local. Na entrada da roça, fomos abordados pelo Carlos, um miúdo de 19 anos que tenta ganhar algum dinheiro com estas visitas. Se nos abstrairmos da profunda degradação do local, até parece que no passado teria sido um sítio bonito de se viver. Pequenas casas individuais de cada lado da rua principal, albergavam os trabalhadores, os solteiros de um lado e os casados do outro.

    Esta é uma das maiores e mais importantes plantações de cacau. Pertencia a João Almeida, um são-tomense descendente de uma família mestiça, abastada de São Salvador da Baía, que em 1855 introduz a cultura de cacau em São Tomé e Príncipe.

    No topo da roça, consegue-se imaginar um lindo hospital, que tal como nas outras roças, as pequenas salas que não ruíram são hoje casas de locais. Na realidade, os hospitais eram construídos no topo por causa das doenças contagiosas, para estarem mais afastados e principalmente para melhorar a circulação do ar. Enquanto visitávamos o hospital, o Benji ficou a jogar à bola com os miúdos. Esses mesmos miúdos que queriam andar connosco de mão dadas. Uma vez que a maioria tinha 7 anos e já sabiam ler, oferecemos um livro do Benji que fez a alegria das crianças.

    Uma das fábricas de óleo de palma, cacau e sabão está hoje em dia transformada num centro cultural, com uma exposição permanente, mas que também traz artistas de diferentes culturas para partilhar a sua arte e deixar alguma presença. A FACA (Fábrica de Arte e Cidadania Ativa) é um espaço onde se pode aprender a tocar guitarra, piano e também se pode ler numa pequena biblioteca. Um estudante de música vai explicando cada canto da exposição e as conquistas da FACA, tocando de vez enquanto um pouco de guitarra e até cantando para nos mostrar o trabalho dele.

    Com o coração cheio, fomos beber vinho de palma com a comunidade. Temos que fechar os olhos aos copos que são apenas passados num balde de água. O mesmo para todos. Uma senhora com alguma idade, vende o vinho de palma à porta de casa, onde se juntam algumas pessoas para beber e ficar à conversa. Tinham nos dito que o vinho demorava 4 a 6h para fazer e que teria 2 graus de álcool. Mas depois de 2 frascos (frasco de grão que servia de copo) já sentia muita leveza... O Benji ficou a brincar dentro de casa com os netos da senhora e nós na conversa lá fora. A mítica frase do dia foi:
    "Quem morre é burro, porque no caixão está muito calor!"
    Antes de irmos embora, fomos convidados a voltar para almoçar na casa de um deles. Quem sabe!

    Antes de almoçarmos, passámos pela boca do inferno. Existe um mito que só o dono da roça conseguia entrar e sair. Todos os outros morriam. Aliás, o dono da roça no seu cavalo branco entrava na boca do inferno e saía em Portugal.

    Depois da sesta, fomos a pé no meio do mato para mais uma praia deserta, não podemos passar o dia sem dar um mergulho na praia, se não o Benji fica impossível.

    Fomos petiscar a Vilma, na capital, pela primeira vez. Apesar de ser cedo, o Benji estava tão cansado que pediu para se deitar no banco do restaurante e ficou a dormir enquanto jantámos.
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