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  • Day 79

    Tiririca

    February 14, 2022 in Brazil ⋅ 🌧 26 °C

    Choveu a noite toda e continuava a chover de manhã. Íamos almoçar na comunidade cabocla - termo utilizado para a mistura do indígena com o europeu - da Tiririca, mas tiveram que anular porque era impossível andar debaixo dessa chuva. Ficámos a jogar às cartas para passar o tempo.

    Depois do almoço, a chuva parou e seguimos de barco para fazer uma trilha fácil de 1h30 com um guia da comunidade da Tiririca. A sorte não estava do nosso lado, recomeçou a chover torrencialmente. O impermeável que tinha para a chuva nem aguentou. Mas o nosso guia não deixou de nos dar uma explicação das propriedades de cada planta e cada árvore. Quase todas com propósitos medicinais ou para a construção.

    Com conhecimento da floresta ninguém morre à fome, à sede ou precisa sequer de uma farmácia. O pau de água, por exemplo, é uma liana que consegue armazenar até 1l de água por cada meio metro. É só cortar um pedaço do tronco e escorre água filtrada, como se fosse uma garrafa de água.

    No comunidade, o guia mostrou o processo da tapioca, tucupi e da farofa (la braba). O mais incrível é que vêm todos de uma mandioca venenosa. Se não passar por todo o processo é altamente mortal. Ele já tinha visto um porco morrer por beber o tucupi que tinha escorrido no chão e não estava cozido ainda. Já houve famílias que morreram por não conhecerem as diferentes mandiocas.

    A comunidade também vive do artesanato que faz e dos turistas que vêm visitá-los.

    Ao final do dia a chuva parou e fomos com o Nigel, supostamente, fazer Animal Spoting de barco. O truque é apontar uma luz muito direcional e com grande alcance. Os olhos dos bichos refletem bem longe e eles ficam encadeados. Mas depois de meia hora sem ver nada, aproximamos de uma margem do rio bem lentamente, expectantes. Quando ele diz: "é apenas um sapo". Pensei logo que ia ser um fiasco.

    Foi tudo menos um fiasco, logo a seguir apanhou com a mão dois pássaros noturnos que estavam a namorar numa árvore.

    O ponto alto foi o jacaré que ele apanhou. Nunca pensei presenciar isso. Lentamente de barco aproximamos do jacaré na margem do rio. Só tinha os olhos de fora por isso nem sabia qual o tamanho do bicho. Antes do jacaré sentir já o Nigel tinha passado uma corda à volta do pescoço. Mas ele eram tão grande que puxou o Nigel para o rio. Voltou a subir para o barco e ficou a segurar a corda até o jacaré se acalmar, cansado de lutar contra a corda. Nessa altura com a ajuda do condutor do barco subiram um bicho enorme para cima do barco, fechando a boca com uma fita. Ele tinha quase 1.80m.

    O Nigel trabalhou para na preservação destes animais por isso estava bem habituado. Foi um misto de medo, respeito e adrenalina. Quando o libertaram esperneou-se todo e fugiu logo. São eles que têm medo de nós.

    Antes de regressarmos, o Nigel com uma perícia enorme, ainda apanhou uma giboia filhote, como eles dizem. Devia ter mais de um metro e estava no ramo de uma árvore na margem do rio.
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