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  • Day 16

    Chile, Ilha de Páscoa 2

    August 13, 2018 in Chile ⋅ 🌬 21 °C

    Ainda temos muitos dias de viagem pela frente, mas este é de certeza inesquecível. O tempo estava maravilhoso. Apesar de nos terem sempre dito que teríamos carro para alugar diretamente no hostel, no fim tivemos que alugar numa agência na rua. É muita a oferta. Optamos por um Jimny - 4X4 da Suzuki, muito popular aqui. Ao assinar o contrato verificámos que o seguro não está incluído. Pergunto porquê e a resposta é desconcertante. Simplesmente porque não existem companhias de seguros na ilha e porque o limite de velocidade é de 50km/h. Não importa, porque por mais que se acelere, o carro só vai até aos 60km/h...
    E é aqui que começa a aventura e o encantamento. O percurso que escolhemos é pela orla marítima e a força das ondas de mar alto contra as escarpas vulcânicas é um espetáculo irresistível. Temos que parar para sentir o salitre a penetrar na pele e ver a água a saltar metros acima do nível da plataforma na ilha. Sabemos que temos muitas paragens pelo caminho e vamos verificando no mapa onde se encontram os “ahu” e seus respetivos “moai”. Aprendemos com os guardas do parque como eram as suas técnicas de construção e também as agrícolas. Vemos como era agreste o modo de vida desta gente, como já tinham conhecimento do uso de ervas medicinais e as cultivavam a par com as culturas comestíveis e as plantas que usavam para retirarem fibras para fazer tecidos para vestuário. Era uma sociedade remota, mas complexa e estruturada. Na maior parte dos sítios não há turistas em excesso. Basta ser um pouco paciente e é fácil encontrar solitude e silêncio, deixando espaço só para o vento nas poucas árvores da ilha ou o murmúrio do mar. Quando chegamos a Rano Raraku o espetáculo é deslumbrante. Aqui pudemos ver a cratera do vulcão onde eram esculpidos os moai e caminhar por entre eles, na encosta oposta. É um sítio de uma maravilha natural combinado com o poder da força humana que me deixa a pensar sobre o que move o Homem nesta busca incessante de domar a natureza.
    Nas curvas e contracurvas da suave montanha, quando achamos que já tínhamos visto tudo, abre-se para nós a baía onde repousa Tongariki - os quinze imponentes moais de costas para o mar. Veem-se ao longe distintamente recortados contra a baía azul com uma espuma de azul gelo trazida pelas ondas indomáveis. Está vento e a crista da onda volta para trás numa névoa branca surreal. É uma visão mágica.
    Não é possível descrever a sensação de paz e de união com a natureza quando, passado o deslumbramento, me deito na erva suave e sinto o calor que vem desta terra vulcânica misturado com o marulhar do mar, tendo em frente os sérios moais que também parecem contemplar-me. Tenho um certo sentimento de segurança. É fácil sentir-me parte daquele lugar. Bem-vinda!
    Os vestígios de arte rupestre estão espalhados por todo o lado. Às vezes nos moais também, mas em Paka Vaka as evidências são incríveis. Daqui seguimos para norte, para Anakena, a única praia de areias brancas. Tão brancas e finas que quase parecem farinha. Também aqui os moais estão presentes. Destacam-se ainda mais por causa do contraste da pedra vulcânica com a a areia branca. Quando aqui chegámos o vento era tão forte que parecia uma tempestade no deserto. Mas ao chegar à baía a água tem uma temperatura maravilhosa e, apesar de ser inverno, há pessoas que não resistiram a um mergulho no Pacífico. Não é o nosso caso. Mas a caminhada ao longo da praia, as palmeiras que a circundam e toda a envolvência reportam a esta parte tão deslocada da Polinésia a que os habitantes referem pertencer. Na realidade a mim não me importa a quem pertencem. Sinto-me no paraíso.
    Ao fim do dia, regressados a Hanga Roa, podemos ainda apreciar o pôr-do-sol dentro do Jimny, com Tahai e o Oceano Pacífico sem fim bem à nossa frente.
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