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  • Day 26

    Perú, Machu Picchu e Santa Teresa

    August 23, 2018 in Peru ⋅ ⛅ 19 °C

    E chegou o tão esperado dia de Machu Picchu. O turno que escolhemos foi o da manhã. Por isso, às 4:30 já estávamos a caminhar para apanhar o autocarro de Águas Calientes para o recinto das ruínas - cerca de 12kms. Entram 6000 pessoas por dia, divididas em dois turnos. Nós escolhemos subir a montanha que dá nome ao sítio. Sim, porque a cidade em si ninguém sabe que nome tinha. É uma subida íngreme de 700m de desnível. Cansativo, mas compensador. Ver as nuvens a dissiparem-se e a cidade irromper da bruma é uma sensação indescritível. É como se fosse uma aparição. Consigo imaginar a perplexidade de Birgham ao descobrir a cidadela.
    Também me é fácil imaginar o esforço e sofrimento dos construtores da cidade.
    Depois de descermos a montanha ouvimos a descrição de um guia acerca de factos sobre o local. Há vários estudos feitos e parece ter-se concluído que este era um lugar de estudiosos. Aqui era feita a pesquisa para o avanço da agricultura e técnicas de arquitetura e eram também feitas as abordagens às tribos circundantes para a sua conversão ao mundo Inca. Às tribos eram oferecidas estas mesmas técnicas, sementes dos mais variados vegetais e raízes e o tão famoso cuy - porquinho-da-índia - que era e é base da alimentação proteica no Perú. Em troca, os Incas passavam a administradores do território. Estas conquistas eram eficazes porque as tribos eram bastante primitivas, mas o esforço despendido era elevado uma vez que a Cordilheira dos Andes tem montanhas muito íngremes que levavam dias a ultrapassar, a pé, claro, apenas com a ajuda dos pequenos camelídeos - lamas, vicunas e outros dentro da espécie.
    O complexo demonstra claramente a diferença entre os templos e as habitações normais. As paredes dos templos têm uma técnica de construção mais cuidada em que os blocos de pedra são gigantescos, muito polidos e numa pedra de tom mais rosado. A cidade extinguiu-se aparentemente de uma forma natural. Talvez pelo seu isolamento, talvez porque a guerra se instalou e os espanhóis foram mais agressivos do que os Incas esperavam, as pessoas que aqui viveram foram morrendo e ninguém regressou para tomar conta da cidade. A natureza cumpriu o seu papel e cobriu a cidade com o seu manto verde. Há um bloco de granito gigante que foi deixado no local onde o fragmentavam tirando partido das diferenças de temperatura do dia para a noite na região associada à aplicação de fogo e água para acelerar o processo. Fogo de dia para aumentar o calor e a dilatação e água de noite, que congelava e fragmentava a rocha nos pontos que pretendiam. Eram depois polidas com uma rocha mais dura - rocha com alto teor de ferro - e levadas para o local de construção como se fosse um puzzle. É mesmo verdade que não se consegue fazer passar nada entre as duas rochas. As paredes tinham dupla face, à exceção dos templos em que os blocos são massivos e maciços. Os deuses mereciam mais do que os humanos.
    Seriam necessários pelo menos três dias para fazer todo o circuito interno calmamente e explorar todos os pontos. Para além da montanha Machu Picchu, também é possível subir as escadas e construções de Wayna Picchu ou fazer a caminhada até às Portas del Sol - entrada dos caminhantes vindos de Cusco pelo Vale Sagrado - mas cada uma destas visitas dentro do complexo demora ceca de três horas e um grande dispêndio de energia.
    Para nós, essa energia é usada na caminhada de volta a Hidroelétrica. São duas horas e meia de caminhada ao longo do caminho de ferro. Desta vez temos tempo para parar e contemplar a flora e o rio com calma. Passamos por muitos caminhantes de todas as idades. Às vezes até famílias completas.
    Mas o dia só acaba em Santa Teresa, nas piscinas de água quente, onde todos os músculos doridos da caminhada de vinte e cinco quilómetros relaxam a trinta e quarenta graus de temperatura!
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