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- Day 74
- Wednesday, February 9, 2022
- ⛅ 29 °C
- Altitude: 37 m
BrazilSão Sebastião do Uatumã1°49’54” S 58°14’14” W
Amazónia Roots

O sol apareceu depois de uma carga de água. Já tínhamos tudo pronto para pernoitar na floresta.
Seguimos no bote de madeira. Nós, as malas, o Eri e o capitão. Tínhamos 2h de caminho no bote para atravessar o pântano e subir rio acima no meio da vegetação cada vez mais serrada. No meio do pântano as águas parecem um espelho perfeito da vegetação ao redor, do céu e das nuvens. Quase que é difícil dizer onde acaba o reflexo e onde começa a vegetação. Na subida do rio a vegetação fica tão densa que temos que nos baixar de vez em quando para não levar com ramos ou trocos na cara.
Quando já não dava para subir mais, atracamos o barco, deixámos as malas protegidas e seguimos a pé para ver a cachoeira. Eram apenas 3 km, sem caminho definido, o capitão ia à frente com a sua espingarda e a catana. A cada passo que dava tinha que dar várias tacadas de catana para abrir caminho, tornado a caminhada lenta. "Quem corta é o aço, mas quem manda é o braço". O objetivo era abrir caminho para levar o filho Ismael.
A humidade era tão elevada que apesar de caminhar lentamente estava completamente encharcada em suor. Demorámos quase 2h para chegar à cachoeira. Um cenário insólito, só para nós, porque ninguém chega até aqui. Uma praia de areia branca com vista para uma queda de água com vegetação serrada à volta, mas sempre de olho na espingarda. O capitão ainda viu uma lontra, mas fugiu logo.
A volta foi bem mais curta, (1h15min) o caminho ja estava talhado e a fome apertava. Tinha ficado tudo no barco.
Descemos uns 200m com o barco, antes de montar o nosso acampamento. Mal chegámos começou a cair uma chuva torrencial, tivemos apenas tempo para colocar o nosso plástico de protecção para a chuva, para os meninos ficarem abrigados, enquanto o Eri e o capitão montavam as nossas camas de rede. Cada um deles foi depois montar a sua protecção para a chuva e a sua cama de rede, já completamente encharcados. O capitão ainda se tentava proteger com um chapéu de chuva que tinha trazido, mas que acabou por emprestar ao Valentim que se estava a queixar que estava a apanhar um pouco de chuva apesar da nossa tendinha.
Juntámos nos todos debaixo do nosso toldo para um almoço bem tardio. Antes de cada um se deitar na sua cama de rede à espera que a chuva desse uma trégua ou que a noite caísse. Ficámos a ver a chuva a cair no rio e a ouvir o som da floresta. Não posso dizer que estou completamente à vontade. Parte de mim vai relembrando todas as histórias que ja ouvi, imaginando coisas. O grito de um pássaro pode parecer o som de uma onça, apesar de nem saber qual o som que ela faz. Mas o nosso imaginário está sempre a trabalhar.
Na realidade às 16h estava tão escuro que parecia que o sol já se tinha posto.
Quando a chuva parou, o capitão acendeu uma grande fogueira com toda a madeira de uma antiga casa que aqui estava. Aqui morava um senhor que trabalhava na madeira e que construiu uma casa de madeira onde vivia com a família toda.
O objectivo principal da fogueira é durar a noite toda e afastar as onças. Hoje até bebi pouca água para não ter que me levantar de noite.Read more